sexta-feira, 12 de abril de 2013


Evangelho de hoje: a multiplicação dos pães http://www.cnbb.org.br/liturgia/app/user/user/UserView.php

Num país com tantos cristãos alguém passar fome é um grande escândalo!

Se participamos da eucaristia, nossa vida deve ser partilha pois somos seguidores de um Deus que se deu pessoalmente como alimento para todos.

O primeiro passo é ver. Jesus viu a multidão que estava com fome. Muitas vezes nos fechamos em nossas igrejas e somos incapazes de perceber as fomes que existem à nossa volta. Levantemos os olhos de nossos umbigos e olhemos a realidade que nos cerca. Como temos nossas necessidades atendidas, preferimos o abstrato e buscamos nos evadir da concretude da vida, do rosto dos pobres e do gemido do enfermo. A contemplação e a oração devem nos levar à ação

Em seguida, Jesus assume a responsabilidade de dar pão às pessoas. Nós nos dizemos cristãos mas vivemos egoisticamente e fechamos em nossas próprias necessidades. Mesmo nossas orações estão centradas em nosso eu. Atualmente é cada um por si e nem Deus por todos. Como em Gênesis 4, 9, Deus continua a nos dizer: "Onde está teu irmão?" e continuamos respondendo como Caim: "Sou eu o responsável por meu irmão?". Um mundo sem fomes só nascerá se assumirmos a responsabilidade, se nos comprometermos com essa missão.

Faça o que está ao seu alcance. O milagre só aconteceu porque um menino apresentou seus cinco pães e dois peixes. Como eu e você podemos contribuir? Que talentos possuímos? Em que áreas podemos agir?

Imagino que esses cinco pães e dois peixes não eram uma sobra, mas tudo o que o menino tinha. É necessário ter um coração de criança para saber compartilhar.

No próximo passo, Jesus organiza o serviço, estabelece um método para servir bem o povo. Dá-lhe conforto e comodidade. Nossos serviços públicos deveriam dar à população este conforto. ser bem atendido, em lugares e condições adequadas, em tempo hábil. Serviço não é prestar um favor, é reconhecer um direito decorrente da dignidade inerente à todo ser humano. Tratar dos outros como gostaria de ser tratado.

Sentar-se em grupos. Corremos tanto que não nos damos a oportunidade de sentar com os amigos, familiares, colegas de trabalho e de comunidade, quanto mais com os que pensem diferente de nós, os que estão em outras igrejas ou religiões, em outros ideais, partidos ou etapas da vida. A vida deveria ser um banquete, deveria ser saboreada, mas vivemos num fast food insano. Por isso, nossas relações ficam na superficialidade e a fome de amor e de reconhecimento está tão presente. Não é possível encontrar alguém que nos dê atenção, que nos escute, se estamos todos correndo feitos loucos atrás dos próprios interesses, tentando apenas sobreviver.

Jesus distribui pães e peixes tanto quanto queriam. Há riquezas, alimentos e bens suficientes para todos na face da terra. Precisamos aprender a distribui-los para que todos tenham acesso ao necessário. Os judeus no deserto só podiam comer o maná suficiente para aquele dia. Imagina se partilhássemos as riquezas, os bens, os alimentos como se não houvesse amanhã. Com certeza, o mundo seria mais bonito e mais justo.

Mesmo sendo os pães distribuídos para todos ainda sobram doze cestos. Ou seja, se partilharmos haverá o suficiente para todos. Além disso, o texto nos chama a atenção para evitarmos o desperdício. Quanto dinheiro público, quantos alimentos, quanta água, quantos sapatos, quantas vestes, quantos talentos, quantas vidas são desperdiçadas? Se usássemos o suficiente, o necessário, haveria para todos. Todavia, estamos inseridos numa cultura consumista e somente nos reconhecemos como gente pelo que somos capazes de consumir e ostentar. Essa cultura precisa mudar.

Termino constatando que Jesus não quis ser nomeado Rei porque deu pão ao povo. Muitos ajudam as pessoas em troca de votos ou de fama ou em busca de justificar sua ideologia ou seu projeto de poder. Querem ser vistos ou mesmo eleitos como presidentes, deputados, senadores, prefeitos, vereadores, não para servirem ao povo, mas para servirem-se dele. E assim, os mantem cativos em suas necessidades para que continuem dependentes e tenham de ajudar o político bonzinho que obteve-lhes um favor. Servir bem, com decência e competência, não é mérito, é dever!

Jesus foge da multidão e sobe ao monte. Ele não quer simplesmente matar a fome do pão material. Ele não quer que o busquem simplesmente para satisfazerem suas necessidades. Quer libertar as pessoas e não torná-las dependentes dele.

A tentação do desânimo diante da luta constante, da falta de mudanças e da ingratidão, encontra resposta no alto do monte. Lá, com o Pai, conseguimos olhar além e ver o real sentido de nossas ações.

Há líderes que não querem largar o osso ou a teta nunca. Poderiam aprender com Jesus a retirar-se e buscar no alto do monte, na comunhão com Deus, reencontrar o verdadeiro sentido da política e do bem comum e ver que os horizontes são muito maiores que o seu projeto de poder ou do seu partido.

Que a Palavra de hoje nos incomode para que possamos levantar os olhos e ver a multidão faminta, possamos assumir com Jesus a responsabilidade por ela, possamos dar o que temos e servir de forma organizada, tendo a coragem de partilhar, de não desperdiçar e de atender as necessidades, fazendo da vida um banquete e não um fast food, que possamos olhar além da materialidade da vida e encontrar o Bem maior que a tudo transcende e não nos deixa escravizar por nada e por ninguém.


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