segunda-feira, 19 de julho de 2010

Para que deis mais fruto: A formação dos fiéis leigos

Para que deis mais fruto: A formação dos fiéis leigos 

Texto extraído da Exortação Apostólica ‘Christifideles Laici’, do Papa João Paulo II.

Amadurecer continuamente
57. A imagem evangélica da videira e dos ramos mostra-nos outro aspecto fundamental da vida e da missão dos fiéis leigos: a descricao para crescer, amadurecer continuamente, dar cada vez mais fruto.
Como diligente agricultor o Pai cuida de sua vinha. A presença carinhosa de Deus é ardentemente invocada por Israel, que assim reza: "Voltai, Deus dos exércitos olhai do Céu e vede e visitai esta vinha protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que cultivastes" (SI 80, 15-16). O próprio Jesus fala da obra do Pai: "Eu sou a verdadeira videira e o meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que em Mim não der fruto, Ele corta-o e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê mais fruto" (Jo 15, 1-2).
A vitalidade dos ramos depende da sua ligação à videira, que é Jesus Cristo: "Quem permanece em Mim e Eu nele, dá muito fruto, porque sem Mim não podeis fazer nada" (Jo 15, 5).
O homem é interpelado na sua liberdade pela descricao que Deus lhe faz para crescer, amadurecer dar fruto. Ele terá que responder, terá que assumir a própria responsabilidade. É a essa responsabilidade tremenda e sublime, que aludem as palavras graves de Jesus: "Se alguém não permanecer em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; lança-Io-ão ao fogo e arderá" (Jo 15, 6).
Neste diálogo entre Deus que chama e a pessoa interpelada na sua responsabilidade, situa-se a possibilidade, antes, a necessidade de uma formação integral e permanente dos fiéis leigos, a que os Padres sinodais justamente dedicaram grande parte do seu trabalho. Em particular, depois de terem descrito a formação cristã como “um contínuo processo de maturação na fé e de configuração com Cristo, segundo a vontade do Pai sob guia o Espírito Santo", claramente afirmaram que "a formação dos fiéis leigos deverá figurar entre as prioridades da Diocese e ser colocada nos programas de ação pastoral, de modo que todos os esforços da comunidade (sacerdotes, leigos e religiosos) possam convergir para esse fim".

Descobrir e viver a própria vocação e missão
58. A formação dos fiéis leigos tem como objetivo fundamental a descoberta cada vez mais clara da própria vocação e a disponibilidade cada vez maior para vivê-Ia no cumprimento da própria missão.
Deus chama-me e envia-me como trabalhador para a Sua vinha; chama-me e envia-me a trabalhar para o advento do Seu Reino na história: esta vocação e missão pessoal define a dignidade e a responsabilidade de cada fiel leigo e constitui o ponto forte de toda a ação formativa, em ordem ao reconhecimento alegre e agradecido de tal dignidade e ao cumprimento fiel generoso de tal responsabilidade.
Com efeito, Deus, na eternidade, pensou em nós e amou-nos como pessoas únicas e irrepetíveis, chamando cada um de nós pelo próprio nome, como o bom Pastor que "chama pelo nome as suas ovelhas" (Jo 10, 3). Mas o plano eterno de Deus só se revela a cada um de nós na evolução histórica da nossa vida e das suas situações e, portanto, só gradualmente: num certo sentido dia a dia.
Ora, para poder descobrir a vontade concreta do Senhor sobre a nossa vida, são sempre indispensáveis a escuta pronta e dócil da Palavra de Deus e da Igreja, a oração filial e constante, a referência a uma sábia e amorosa direção espiritual, a leitura, feita na fé, dos dons e dos talentos recebidos, bem como das diversas situações sociais e históricas em que nos encontramos.
Na vida de cada fiel leigo há, pois, momentos particularmente significativos e decisivos para discernir o chamado de Deus e para aceitar a missão que Ele confia: entre esses momentos estão os da adolescência e da juventude. Ninguém, todavia, esqueça que o Senhor, como o proprietário em relação aos trabalhadores da vinha, chama no sentido de tornar concreta e pontual a Sua santa vontade a todas as horas de vida: por isso, a vigilância, qual cuidadosa atenção à voz de Deus é uma atitude fundamental e permanente do discípulo.
Não se trata, no entanto, apenas de saber o que Deus quer de nós, de cada um de nós, nas várias situações da vida. É preciso fazer o que Deus quer: assim nos recorda a palavra de Maria, a Mãe de Jesus, dirigida aos criados: “Fazei o que Ele vos disser" (Jo 2, 5). E para agir em fidelidade à vontade de Deus, precisa ser capaz e tornar-se cada vez mais capaz. Sem dúvida, com a graça do Senhor, que nunca falta, como diz São Leão Magno: "Dará a força quem confere a dignidade!", mas também com a colaboração livre e responsável de cada um de nós.
Eis a tarefa maravilhosa e empenhativa que espera por todos os fiéis leigos, todos os cristãos, sem exceção alguma: conhecer cada vez mais as riquezas da fé e do Batismo e vivê-Ias em plenitude crescente. O apóstolo Pedro, ao falar de nascimento e de crescimento como sendo as duas etapas da vida cristã, exorta-nos: "Como crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual, para que ele vos faça crescer para a salvação" (1 Pd 2, 2).

Uma formação integral para viver em unidade
59. Ao descobrir e viver a própria vocação e missão, os fiéis leigos devem ser formados para aquela unidade, de que está assinalada a sua própria situação de membros da Igreja e de cidadãos da sociedade humana.
Não pode haver na sua existência duas vidas paralelas: por um lado, a vida descricao ‘espiritual’ com os seus valores e exigências; e, por outro, a descricao vida ‘secular’, ou seja, a vida da família, do trabalho, das relações sociais, do engajamento político e da cultura. O ramo, incorporado na videira que é Cristo, dá os seus frutos em todos os ramos da atividade e da existência. Pois, os vários campos da vida laical entram todos no desígnio de Deus, que os quer como o ‘lugar histórico’, em que se revela e se realiza a caridade de Jesus Cristo para a glória do Pai e a serviço dos irmãos. Toda a atividade, toda a situação, todo o empenho concreto como, por exemplo, a competência e a solidariedade no trabalho, o amor e a dedicação na família e na educação dos filhos, o serviço social e político, a proposta da verdade na esfera a cultura são ocasiões providenciais de um "contínuo exercício da fé, da esperança e da caridade".
O Concílio Vaticano II convidou todos os fiéis leigos a viver esta unidade de vida, ao denunciar com energia a gravidade da ruptura entre fé e vida, entre Evangelho e cultura: "O Concílio exorta os cristãos, cidadão de ambas as cidades, a que procurem cumprir fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho. Erram os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-Ias, segundo a vocação própria de cada um... O divórcio que se nota em muitos entre a fé que professam e a sua vida quotidiana, deve ser tido entre os mais graves erros do nosso tempo". Por isso, afirmei que uma fé que não se torne cultura é uma fé "não plenamente recebida, não inteiramente pensada, nem fielmente vivida".

Aspectos de formação
60. Dentro desta síntese de vida situam-se os múltiplos e coordenados aspectos da formação integral dos fiéis leigos.
Não há dúvida de que a formação espiritual deve ocupar um lugar privilegiado na vida de cada um, chamado a crescer incessantemente na intimidade com Jesus Cristo, na conformidade com a vontade do Pai, na dedicação aos irmãos, na caridade e na justiça. Escreve o Concílio: Esta vida de íntima união com Cristo alimenta-se na Igreja com as ajudas espirituais que são comuns a todos os fiéis, sobretudo a participação ativa na sagrada Liturgia, e os leigos devem socorrer-se dessas ajudas, de modo que, ao cumprir com retidão os próprios deveres do mundo, nas condições normais da vida, não separem da própria vida a união com Cristo, mas desempenhando a própria atividade segundo a vontade de Deus, cresçam nela".
A formação doutrinal dos fiéis leigos mostra-se hoje cada vez mais urgente, não só pelo natural dinamismo de aprofundar a sua fé, mas também pela exigência de "racionalizar a esperança" que está dentro deles, perante o mundo e os seus problemas graves e complexos. Tornam-se, desse modo, absolutamente necessárias uma sistemática ação de catequese, a dar-se gradualmente, conforme a idade e as várias situações de vida, e uma mais decidida promoção cristã da cultura, como resposta às eternas interrogações que atormentam o homem e a sociedade de hoje.
Em particular, sobretudo para os fiéis leigos, de várias formas empenhados no campo social e político, e absolutamente indispensável uma consciência mais exata da doutrina social da Igreja, como repetidamente os Padres sinodais recomendaram nas suas intervenções. Falando da participação política dos fiéis leigos, assim se exprimiram: "Para que os leigos possam realizar ativamente este nobre propósito na política (isto é, o propósito de fazer reconhecer e estimar os valores humanos e cristãos), não são suficientes as exortações, é preciso dar-Ihes a devida formação da consciência social, sobretudo acerca da doutrina social da Igreja, a qual contém os princípios de reflexão, os critérios de julgar e as diretivas práticas (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução sobre a liberdade cristã e libertação, 72). Tal doutrina já deve figurar na instrução catequética geral, nos encontros especializados e nas escolas e universidades. A doutrina social da Igreja é, todavia, dinâmica, isto é, adaptada às circunstâncias dos tempos e lugares. É direito e dever dos pastores propor os princípios morais também sobre a ordem social, e é dever de todos os cristãos dedicarem-se à defesa dos direitos humanos; a participação ativa nos partidos políticos é, todavia, reservada aos leigos".
E, finalmente, no contexto da formação integral e unitária dos fiéis leigos, é particularmente significativo, para a sua ação missionária e apostólica, o crescimento pessoal no campo dos valores humanos. Precisamente neste sentido, o Concílio escreveu: "(os leigos) tenham também em grande conta a competência profissional, o sentido da família, o sentido cívico e as virtudes próprias da convivência social, como a honradez, o espírito de justiça, a sinceridade, a amabilidade, a fortaleza de ânimo, sem as quais nem sequer se pode dar uma vida cristã autêntica".
Ao amadurecer a síntese orgânica da sua vida, que, simultaneamente, é expressão da unidade do seu ser e condição para o cumprimento eficaz da sua missão, os fiéis leigos serão interiormente conduzidos e animados pelo Espírito Santo, que é Espírito de unidade e de plenitude de vida.

Para saber mais:
Estude na íntegra a carta encíclica ‘Christifideles Laici’ e os documentos do Concílio Vaticano II mencionados no texto acima (Constituição Dogmática ‘Lumen Gentium’ e o Decreto ‘Apostolicam Actuositatem’).


Rodrigo O. Fumis  (obrigado, amigo!)

terça-feira, 6 de julho de 2010

QUARTA ETAPA DA CAMINHADA DE FORMAÇÃO - TRINDADE E EUCARISTIA

CAMINHADA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO REINO DO MUR

“Felizes os que em vós têm sua força, e se decidem a partir quais peregrinos!”
Salmo 83(84), 6

4ª ETAPA


                 Esta quarta etapa da “caminhada de formação dos profissionais do reino do MUR”, está subdividida em dois temas distintos, mas complementares. No primeiro, somos convidados a mergulhar no mistério da Santíssima Trindade, buscando “compreendê-la” como o mais perfeito modelo de comunidade e comunhão. No segundo, refletiremos a respeito do sacramento da Eucaristia, símbolo trinitário, fonte de graça e de amor. Mais amplamente, somos convidados a pensar sobre nossa caminhada como Profissionais do Reino, nossa “missão” na Igreja, na sociedade e no mundo.  

TRINDADE: MODELO DE COMUNHÃO E MISSÃO

Ó minha fé, vai adiante na tua confissão.
Diz ao Senhor teu Deus: santo, santo, santo, é o Senhor meu Deus.
Fomos batizados em nome do Pai do filho e do Espírito Santo.
(Santo Agostinho, em Confissões)

                   O cristianismo sempre afirmou a existência trinitária de Deus. O mandato do Senhor Jesus, “Ide por todo o mundo e batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” ((Mt 28,19), é um sinal evidente desta afirmação. Trata-se, pois, de uma verdade de fé para os cristãos católicos desde sua origem. Não foram poucos, contudo, os homens e as mulheres que, ao longo da História, têm refletido sobre tão grande mistério: como sendo UM pode DEUS ser ao mesmo tempo TRÊS? É, nesse sentido, muito conhecida a história que tem como personagem principal, Santo Agostinho (354-430) grande teólogo, filósofo, escritor e Doutor da Igreja, que viveu entre o quarto e quinto século de nossa era.
                 Conta-se que Agostinho[1] andava em uma praia meditando sobre o mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas... Enquanto caminhava, observou um menino que portava uma pequena tigela com água. A criança ia até o mar, trazia a água e derramava dentro de um pequeno buraco que havia feito. Após ver, repetidas vezes, o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia. O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -"estou querendo colocar a água do mar neste buraco". Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -"mas você não percebe que é impossível?" Então, novamente olhando para Agostinho, o menino respondeu-lhe: "ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!".
           Não é, evidentemente, o intuito deste estudo/reflexão “tentar resolver” teológica ou filosoficamente, esse grande mistério. É preciso ressaltar, entretanto, que embora tal mistério ultrapasse as potencialidades da razão humana, não lhe contraria; em sua totalidade, escapa à capacidade de entendimento humano, mas não o dispensa. Ou seja, pode ser conhecido, mas não é compreendido em sua altura, dimensão e profundidade. É o próprio Santo Agostinho, então, que, em sua obra, “A Trindade” (2008, p. 488-489) ilumina essa questão:

A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o profeta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7, 9). De outro lado, o entendimento prossegue buscando aquele que a fé encontrou, pois, Deus olha do céu para os filhos dos homens, como é cantado no salmo sagrado: para ver se, acaso, existe alguém inteligente, que busque a Deus (Sl 13,2). Logo, é para isto que o homem deve ser inteligente: para buscar a Deus.

                Devemos refletir, então, como quem crê, ama e, deseja, inteligentemente, compreender. Diante do Mistério, não abandonamos a razão, mas devemos deixar que “nos toque” e “nos fale” ao coração, ao mais profundo do nosso ser: trata-se de, pela fé, experimentar o mistério, mergulhar no numinoso. Nesse sentido, a moral da história na qual Agostinho se depara com o grande mistério da Santíssima Trindade não é um apelo ao não exercício da razão ante o Mistério Divino, mas um alerta à pretensão humana de desvendá-lo por completo. Diante dos Mistérios de Deus, o homem é convidado a “ouvir” e “deixar-se tocar” pelo numinoso, pelo sublime, pelo inefável. Como nos orienta o Catecismo da Igreja Católica, o mistério da Santíssima Trindade é “[...] a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na ‘hierarquia das verdades de fé . Toda a história da salvação não é senão a história da via e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e Único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia consigo e une a si os homens que se afastam do pecado  " (n. 234).

Para reflexão e partilha:
                    Observem, agora, o ícone[2] que apresentamos a seguir e partilhem suas impressões e sentimentos como seus amigos: O que o ícone “nos fala”? Ele “nos toca”? Como “nos toca”?  O que nos inspira?  Em seguida, partilhem suas experiências passadas e atuais com a Trindade: Como é sua experiência com a Trindade? O que você já estudou sobre esse tema? Como podemos experimentar e compreender melhor esse mistério em nossa comunidade (GPPs, GOPs e GOUs) ?

                    





A Trindade: Apelo à vida comunitária, à comunhão e a missão
                  Nos evangelhos, como já salientamos, Jesus nos convoca a anunciar e batizar os crentes em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Evangelizar e batizar é, de modo sintético, convidar homens e mulheres ao convívio solidário e fraterno que propicie a construção de um novo mundo; mundo constituído, fundamentalmente, de amor e de justiça, o Reino de Deus. Pela graça do Batismo, afirma o catecismo da Igreja Católica “[...] somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna  .” (n. 265) Nesta vivência estão os fundamentos para um novo mundo e uma nova sociedade.  

Para partilha e reflexão:
Afirma a Sã Doutrina que uma espiritualidade genuinamente autêntica deve estar fundada na Santíssima Trindade – em uma espiritualidade trinitária.
Estamos vivendo esta espiritualidade trinitária? Como intensificá-la e vivê-la com mais consciência em nossos GPPs, GOPs, em nosso ambiente de trabalho e no mundo?
Que analogia ou analogias é possível estabelecer entre a “Vida da Trindade” e a vida comunitária?
O que significa “compartilhar da vida da Santíssima Trindade”? Como ela nos impulsiona à missão?

Para estudo e reflexão:
                Embora de modo implícito, possamos identificá-la em diversas passagens do Antigo e do Novo Testamento (Santo Agostinho em, De Trinitate,  afirma que podemos encontrá-la em quase todas as páginas da escritura) a expressão “Trindade” não se encontra na bíblia. Compõe, deste modo, a doutrina cristã católica e é, como já dissemos, uma verdade de Fé. Por isso, aqueles que professam este dogma se referem a Deus como Uno e Trino. Os cristãos são batizados, afirma o catecismo da Igreja Católica, "[...] em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19). Antes disso, eles respondem "Creio"  à tríplice pergunta que os manda confessar sua fé no Pai, no Filho e no Espírito: "Fides omnium christianorum in Trinitate consistit - A fé de todos os cristãos consiste na Trindade”   (n. 232)
                 Leiam o texto de Gênesis 1, 1-5 e, em seguida, partilhem buscando identificar a presença da Trindade já no primeiro momento da criação. Que outros textos, do Antigo e do Novo Testamento, podem ser também citados? Partilhe com seus amigos.


EUCARISTIA: SER COMUNIDADE E TRABALHAR EM REDE

Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e eu nele (Jo 6,56)
Eles eram perseverantes ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. (...) Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração (At 2,42.46).

    
                   A Eucaristia é símbolo trinitário, pois Nela encontramos todo o amor da Trindade dando-se a nós em plenitude de graça, de vida, de santidade. Ela coloca no altar e oferece a todos os cristãos, o amor da Trindade. A  Eucaristia, como afirma o catecismo da Igreja Católica, é “[...] fonte e ápice de toda a vida cristã  . Os demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a Santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa ” (n.1324). Nela, e aqui vemos claramente a manifestação da Trindade   “[...] está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai ” (n.1325). Pela celebração da Sagrada Eucaristia, nos unimos à liturgia do céu e, ao mesmo tempo, antecipamos a vida eterna.  
                            A  riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diversos nomes que lhe são dados. Cada uma destas designações a seguir, evoca, segundo o Catecismo da Igreja Católica (p. 366-367), alguns de seus aspectos:
Eucaristia: porque é ação de graças a Deus. As palavras “eucharistein” (Lc 22,19; 1 Cor 11,24) e “eulogein” (Mt 26,26; Mc 14,22) lembram as bênçãos judaicas que proclamam sobretudo durante a refeição as obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação.
 Ceia  do Senhor : pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera de sua paixão, e da antecipação da ceia das bodas do Cordeiro  na Jerusalém celeste.
Fração do Pão: porque este rito, próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como presidente da mesa , sobretudo por ocasião da Ultima Ceia . É por este gesto que os discípulos o reconhecerão após a ressurreição , e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão suas assembléias eucarísticas .
Assembléia eucarística (synaxxis, pronuncie “sináxis”), porque a Eucaristia é celebrada na assembléia dos fiéis, expressão visível da Igreja .
Memorial  da Paixão e da Ressurreição do Senhor.
Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, “sacrifício de louvor” (Hb 13,15 ), sacrifício espiritual , sacrifício puro  e santo, pois realiza e supera todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra seu centro e sua expressão mais densa na celebração deste sacramento; é no mesmo sentido que se chama também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se também do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos. Com esta denominação designam-se as espécies eucarísticas guardadas no tabernáculo.
Comunhão , porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo ; denomina-se ainda as “coisas santas: ta hagia (pronuncia-se “ta háguia” e significa “coisas santas ”); sancta (coisas santas” este é o sentido primeiro da “comunhão dos santos” de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do céu, remédio de imortalidade , viático...
Santa  Missa, porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o envio dos fiéis (“missio”: missão, envio) para que cumpram a vontade de Deus em sua vida cotidiana.
              Em seu conjunto essas expressões indicam, não seria presunçoso de nossa parte afirmar, que todos os que comem do Único Pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e já não formam senão um só corpo Nele . Ou seja, a comunhão é, ao mesmo tempo, da pessoa com Cristo e, em Cristo, de todos os que comem deste pão. Na comunhão, portanto, somos impulsionados a ir ao encontro de todos os seres humanos do mundo em dois movimentos complementares: no primeiro, com a comunidade dos crentes, somos chamados a celebrar a glória de Deus. No segundo, considerando as “ovelhas ainda não encontradas” – não há, na verdade, “ovelhas perdidas”, mas, apenas, aquelas que ainda não foram encontradas – a anunciar seu perdão, seu carinho, seu amor.
Para reflexão e partilha:
               Leiam o texto que segue e, em seguida, partilhem suas idéias, sentimentos e impressões. Esse texto foi extraído do Catecismo da Igreja no n. 1396 a1397, p386.   



“A  unidade do corpo místico”
A Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia estão unidos mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um só corpo, a Igreja. A comunhão renova, fortalece, aprofunda esta incorporação à Igreja, realizada já pelo Batismo. No Batismo fomos chamados a constituir um só corpo . A Eucaristia realiza este apelo: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17).
                 Se sois o corpo e os membros de Cristo, é o vosso sacramento que é colocado sobre a mesa do Senhor, recebeis o vosso sacramento. Respondeis “Amém” (“sim, é verdade!”) àquilo que recebeis, e subscreveis ao responder. Ouvis esta palavra: “o Corpo de Cristo”, e respondeis: “Amém”. Sede, pois, um membro de Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro . (Santo Agostinho). A  Eucaristia compromete com os pobres. Para receber na verdade o Corpo e o Sangue de Cristo entregues por nós, devemos reconhecer o Cristo nos mais pobres, seus irmãos : Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta própria mesa, não julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno de participar desta mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta mesa. E tu, nem mesmo assim, te tornaste mais misericordioso  (S. João Crisóstomo).
                                       

Trabalhando em rede
Um sonho que se sonha só é apenas um sonho. Um sonho que se sonha juntos é o começo de uma realidade.  (D. Hélder Câmara, arcebispo brasileiro)
Um mais um é sempre mais que dois (Beto Guedes e Ronaldo Bastos compositores mineiros)
               Todos nós já experimentamos, certamente, em algum momento de nossas vidas, a angústia derivada de sentimentos de impotência diante das “aflições deste mundo” e das circunstâncias, por vezes desafiadoras, que enfrentamos ao longo do caminho. Diante das dificuldades nos sentimos fraquejar, nossos melhores sonhos perdem seu brilho, e a solidão “bate à nossa porta” de modo, não raramente, assustador. “Não é bom”, conclusivamente, “que homens e a mulheres vivam sós”: É Deus mesmo quem nos chama a viver em comunidade, a ser família, a compartilhar. Se as inevitáveis (inevitáveis por serem próprias da condição humana) dores e tristezas da vida humana são mais “leves” ou “suportáveis” quando estamos aportados em uma comunidade amorosa, tanto mais ela (a comunidade) é importante, quando nos deparamos com a necessidade de organizar ações concretas voltadas à evangelização/transformação deste mundo.
                 Não somos, como quer a ideologia capitalista – que gera uma cultura consumista e uma competição darwinista –, “indivíduos individuais”. Ao contrário, na cultura de pentecostes, nossa individualidade floresce, em toda sua unicidade e beleza, no seio de uma comunidade. Nossa força para “saltar os montes”, vencer as “aflições deste mundo” e promover sua transformação está ancorada em na capacidade de ser comunidade, de compartilhar nossas vidas com outros que, como nós, sofrem e tropeçam, mas, comungam, na Trindade, do corpo e sangue do Senhor.
                 Na força e na alegria da Trindade, as “ações em rede” podem ser, então, um contraveneno à cultura consumista e à competição darwinista já citada neste estudo, que contamina as relações humanas sobrepondo os interesses do mercado aos interesses que visam o Bem Comum. O “trabalho em rede” pode potencializar as ações desenvolvidas pelos GPPs e GOPs, tornando mais fortes e eficazes os processos de evangelização/transformação do mundo. Podem propiciar e estimular os indivíduos a se engajarem em trabalhos coletivos de cooperação que promovam o “Bem Comum”. Ou seja, aquilo que “abrange a existência dos bens necessários para o desenvolvimento da pessoa e a possibilidade real de todas as pessoas de ter acesso a tais bens. (Texto-Base da Campanha da Fraternidade, 2010)  
                    Os GPPs, GOPs  e GOUs podem constituir, nesta perspectiva, nós de uma imensa rede que, ancorados na Trindade e alimentados pela Eucaristia, podem organizar movimentos e ações de resistência e transformação que promovam um novo mundo, a cultura de pentecostes a civilização de amor. 

Para refletir e partilhar:
O que significa “trabalhar em rede”? Que exemplos podemos dar?
Em que tipo de “trabalhos em rede” os GPPs e GOPs de todo o Brasil poderiam se envolver? Partilhem suas ideias, seus projetos, seus sonhos....

        A bela canção de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, pode encerrar, belamente, a reflexão que aqui nos propusemos realizar. Para também ouvi-la cliquem ou digitem em seus computadores um dos links abaixo:

 

O Sal da Terra

Composição: Beto Guedes e Ronaldo Bastos

 


Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Bem que tá na hora de arrumar...

Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...

A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...

Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã

Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...

Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...

Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra




http://www.youtube.com/watch?v=YmDct14yAhs

 

http://www.youtube.com/watch?v=Sv0ozVIOcY0&feature=related




REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES DE LEITURA

AGOSTINHO, Santo. Trindade - De Trinitate.  São Paulo: Paulinas, 2008, 1234p.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. (Trad. J. de Oliveira Santos/ Ambrósio de Pina). Coleção Pensamento Humano. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2003.

CAMBÓN, ENRIQUE. Assim na Terra como na Trindade.  São Paulo: Cidade Nova, 2000, 245p.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,1998.
CONIC – CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL – campanha da fraternidade ecumênica. Brasília: edições CNBB, 2010.




[1] Aurelius Agustinus, para nós, Santo Agostinho, nasceu em Tagaste (Norte da África, atual Argélia), em 13 de novembro de 354 e faleceu, aos 76 anos de idade, em Hipona dia 28 de agosto de 430. Deixou-nos uma vasta e densa obra e é estudado intensamente, tanto por religiosos, como por pesquisadores em geral. Entre as obras de maior impacto, considerada por alguns como a obra da maturidade, está “A Trindade”, ou “De Trinitate”.  Nela, o ilustre Santo, se dedica a refletir sobre esse Grande Mistério que é a Santíssima Trindade.
[2] O Ícone da Trindade, composto pelo monge iconógrafo russo Andrej Rublëvv, é considerada uma obra-prima da iconografia trinitária. Ele retrata, com perfeição, a leitura do texto bíblico de Gn 18, 1-14. Uma explicação muito interessante deste ícone pode ser vista e analisada em:  http://vale-de-saron.blogspot.com/2009/06/icone-da-santissima-trindade.html, site da comunidade católica Vale de Saron.