1.
Quais
os referenciais teóricos podemos utilizar para avaliar o sistema
político, os partidos, as alianças e os candidatos?
Não tenho uma resposta pronta para essa questão. Acho que isso é
o mais belo das questões e é isso que permite e convida ao diálogo, a
aprendermos uns com os outros, partilhando conhecimentos. Assim, renovo o
convite ao diálogo, à coragem de se dizer o que se pensa. Uma civilização do
amor não nasce apenas do romantismo ou ds boas intenções. Somos seres racionais
e se Deus nos deu tal graça precisamos usá-la, sob pena de cair no fideísmo,
como nos alertou João Paulo II, na “Fides et ratio”.
As correntes filosoficas determinam a forma como vemos o mundo e
o organizamos. Muitas vezes, utilizamos princípios filosóficos gerados a
séculos sem mesmo percebê-los ou ter consciência dos mesmos ou de seus autores.
O quanto de Platão, de Aristóteles, de Tomás, de Agostinho, de Maquiavel, de
Locke ou Hobbes há em nós?
O grande problema é não percebermos o contexto, a tradição
filosófica, em que estamos inseridos, que muitas vezes serve como uma “matrix”,
onde nosso pensamento fica aprisionado nas premissas dadas pelo próprio sistema
e das quais não somos conscientes.
Assim, não conseguimos imaginar um sistema diferente, mas
simplesmente acabamos discutindo os remendos para fazer com que o sistema
continue funcionando, apesar de seus limites e de suas incoerências.
Assim, vivemos uma crise do sistema democrático, da legitimidade
e da efetividade do sistema político-partidário-representativo, mas acabamos discutindo
sobre os partidos x ou y ou a ideologia z ou v.
No entanto, há um problema de fundo que faz com que os partidos
sejam todos iguais, que as ideologias sejam semelhantes e com que o sistema
continue sendo mantido como está. Assim, acreditamos viver numa democracia mas
só podem ser eleitos quem tem dinheiro ou quem está na mídia e não nos vemos
representados por aqueles que escolhemos como representantes.
Sem compreender os referenciais teóricos que estão por traz do
sistema, não conseguiremos superá-lo.
Assim, somos herdeiros do pensamento grego, especialmente de
Platão e de Aristóteles. Ao longo da história, vários pensadores tentaram
responder aos problemas postos por estes dois filósofos.
Para Platão, quem deve governar é o virtuoso, o filósofo, aquele
que teve acesso cognitivo à ideia de bem. O risco é a imposição de um modelo de
vida boa para todos, sem respeitar as diferenças culturais.
Aristóteles busca superar este problema construindo um sistema
dialogal, pluralista, onde, através da retórica se consiga um consenso, um meio
termo entre as várias visões de grupos distintos. O risco é perder de vista a ideia
de bem.
Até o século XVIII, mais ou menos, a ideia de fim e de bem
estavam presentes na reflexão política como ideia de formação moral do cidadão.
No entanto, o projeto político do Iluminismo, gestado muitos anos antes por
Guilherme de Okham, Grotius, Kant e outros, é um projeto liberal,
individualista, que rompe com os referencias morais que vão sendo minados ao
longo do tempo.
A razão criaria o mundo perfeito. A fé e os dogmas são
superstições a serem abandonadas pois impedem o livre desenvolvimento humano.
As decisões políticas deixam de ser referenciadas por uma ideia
de bem, mas são definidos a partir de preferências e interesses, da i segue o
utilitarismo, o pragmatismo e o hedonismo (Hume).
A dimensão de fraternidade do Iluminismo vai sendo esquecida e
aí vemos as agressões aos trabalhadores no revolução industrial.
O marxismo surge como resposta a este estado de coisas e bebe
das mesmas fontes iluministas, na mesma confiança na razão.
O século XX expressará as potencialidades e os horrores da razão.
Criamos grandes coisas, mas também matamos e destruímos como nunca, a ponto de
podermos destruir nosso próprio planeta, seja por um conflito nuclear, seja
pela devastação ambiental.
As teorias políticas vigentes em nosso tempo (rawls, habermas)
fundam-se no liberalismo e no individualismo e tentam encontrar um fundamento
ético para a coexistência humana autofundante de caráter construtivista e
procedimentalista.
Há uma suspeita da razão e da própria natureza humana, os
discursos religiosos são descartados de plano. Destarte, não confiando na razão
e na fé, a humanidade fica sem referencias e tudo se torna válido desde que
seguindo os procedimentos estabelecidos nas constituições.
Falta racionalidade ao sistema e as elites não permitem uma
ampla participação nas decisões políticas. São elas que determinam nossas
opções de escolha. O sistema é feito para manter a si mesmo como está.
As crise na Europa e a ambiental revela que não chegamos ao fim
da história e que a construção de um novo modelo é necessário.
Considero essa a nossa missão.
Perdoem-me se somente toquei de leve a questão. Isso se deve as
minhas próprias limitações teóricas, de tempo e de redação. Mas, como disse no
início, não tenho a resposta e creio que elas aparecerão no diálogo aberto e
sincero entre nós.
2. Qual é a finalidade da política?
Desta forma, a finalidade da política é a promoção da dignidade
da pessoa humana concreta, de todas as pessoas, em qualquer fase da vida, permitindo
o seu pleno desenvolvimento. A isso chamamos bem comum. Uma política que
promove só o bem de um grupo e impede que todos tenham acesso aos bens
materiais e imateriais necessários ao seu pleno e livre florescimento não está
de acordo com a sua finalidade. Creio que é isso que vemos no Brasil. Espero
que consigamos construir um sistema político menos dependente do poder econômico
e do poder midiático (Somente 7 famílias detém o monopólio da comunicação no
país).
3. Quais são os critérios que você, pessoalmente, adota para votar?
Pessoalmente, busco conhecer a história dos candidatos, seus
ideiais, seus princípios, os grupos que o mesmo representa, quem o financia, a
ideologia e o programa do partido e a capacidade de realização e de articulação
e o modo como envolve a população em suas decisões.
Muitos tem boas ideias, mas não conseguem articular e dialogar
com a sociedade e com outros partidos. Desta forma, acaba preso em si mesmo.
Outros estão jungidos a seus financiadores e aos grupos que
representam.
Outros defendem posições que contrariam meus princípios.
Quando somos obrigados a votar no menos ruim, é necessário
pressioná-lo depois para que seja realmente seu representante.
4. Um católico deve necessariamente votar em candidatos católicos?
Depende do que se entende por candidato
católico. Se por candidato católico se entende aquele que vai à Missa, ou
participa do grupo de oração ou de outro movimento, comunidade ou pastoral, mas
que não conhece e vive os princípios do evangelho e da doutrina social da
Igreja e não representa o pensamento da comunidade, mas o seu próprio, então não
votaria num candidato católico. Não votaria num candidato de si mesmo ou que
deseja instrumentalizar seu mandato somente em favor da igreja católica. Nisto
já há um contrassenso, haja vista que católico, que dizer que tem que cuidar de
todos, mesmo dos que não são católicos. Há candidatos católicos mais
perniciosos que candidatos ateus ou evangélicos, por exemplo. São aqueles que
são formalmente católicos, mas materialmente não seguem os princípios católicos.
Somente instrumentalizam a fé e criam um curral eleitoral. Entre esse e um não
católico que tenha as características que desejo, voto no não-católico.
Aí esta na verdade um problema de nossa
organização eclesial que não consegue formar integralmente o ser humano. Nossa
catequese e o processo de formação da RCC é falha. A dimensão do político e do
concreto é deixada de lado ou fica como último assunto a ser abordado. É
praticamente um tabu.
Nosso estrutura também é mais platônica que
aristotélica, no sentido de que não somos acostumados a deliberar coletivamente
e temos medo do debate. As decisões vem de cima para baixo e nós a obedecemos,
sem reflexão. O que vale é o argumento de autoridade.
Desta forma, vamos para o mundo e queremos que
ele seja como a nossa estrutura: que aceitem o que estamos dizendo porque somos
nós que o dizemos, mas Pedro já ordenava que déssemos as “razões de nossa
esperança”.
Espero que nossa estrutura não nos forme para
ficarmos em um aquário, pregando a nós mesmos e reafirmando nossas convicções
em nossos encontros. Ela deve nos formar para irmos ao mundo e ocuparmos os
espaços sociais de decisão: partidos, sindicatos, funções públicas, meios de
comunicação, economia, movimentos sociais. Enquanto não dermos esse passo, o
sonho de uma civilização do amor será só um sonho e correrá o risco de se
tornar um pesadelo.
Bryan Ufla -mur fé e política
ResponderExcluir1)Em relação a esta pergunta não possuo um conhecimento filosófico em relação ao tema, mas para não deixar passar, respondi como se fosse dirigido a minha pessoa:
Sistema político:
* Será que todos os candidatos possuem as mesmas possibilidades de se elegerem.
* O meu voto vai para o candidato ou para a legenda?(Apesar de serem do mesmo partido os candidatos pensam diferente um dos outros.)
Partidos
*Os partidos respeitam à vida nas suas diversas formas?
Alianças
*Visam o bem do cidadão?
Candidatos:
* questionar como eles (candidatos), irão “implementar” as grandes demandas da sociedade: saúde, educação, educação, dentre outros, de forma prática.
* Saber se os candidatos tem ideia da situação que irão encontrar quando assumirem o cargo almejado(não digo experiência política), evitando caírem de paraquedas seja no poder legislativo ou executivo.
2)
* Pela definição do dicionário, seria utilizar dos meios(lícitos) para chegar aos fins(bons), (Sendo assim a meu ver a essência da política, que seria utilizar-se de leis e do aparato do estado, para promover o bem da população) cabendo às perguntas,quais são os objetivos dos candidatos e o que representam?
3)
* Os candidatos possuem metas compatíveis com o que estão propondo, ou estão falando o que o povo quer ouvir?
* Possui uma ficha limpa?
4)Pergunta um pouco difícil de respondida com precisão, pois tenho uma ponderação e duas dúvidas.
Ponderação:
1ª)Penso que a pergunta esteja considerando um católico praticante e não um que apenas se declara católico.
Dúvidas:
1ª) Votar em um católico que diverge do meu ponto de vista em relação ao modo que promova o bem comum (não digo socialismo), pois posso considerar o modo que o candidato adote não obtenha êxito (pois apesar dos católicos quererem o bem comum, as pessoas pensam diferentemente uma das outras) ou votar em um cidadão não católico que irá promover o bem comum , pensando similar ao meu ponto de vista(não digo ego e sim estratégia)?
2ª)Penso que mesmo candidatos não católicos, que respeitem a vida nas suas diversas formas, indiretamente representamos ideais católicos, porém se esses candidatos no futuro não quiserem respeitar nossa religião, querendo nos perseguir, uma vez que se não houver candidatos católicos quem irá nos representar?