terça-feira, 6 de abril de 2010

Espiritualidade dos Leigos e Leigas no Documento 62 da CNBB

O tema da segunda etapa da caminhada de formação é a espiritualidade do leigo. Encontramos uma bela síntese no documento 62 da CNBB, de 175-185.

Este texto pode ajudar você e o grupo que participa a aprofundarem o tema:

"6. FORMAÇÃO, ESPIRITUALIDADE E ORGANIZAÇÃO

175.  A eficaz atuação dos leigos na evangelização exige profunda e séria preparação, com a finalidade de favorecer o amadurecimento e o exercício da liberdade e dos carismas. O leigo necessita, igualmente, de vida interior e espírito de responsabilidade. Isso supõe formação espiritual adequada, tanto mais que o ambiente cultural da sociedade atual freqüentemente é orientado em sentido contrário aos valores cristãos. É portanto necessário criar condições para que os leigos católicos encontrem mais facilmente os caminhos da descoberta e do aprofundamento de uma espiritualidade cristã, baseada na oração pessoal e comunitária, na leitura da Bíblia e na vida sacramental, capaz de sustentá-los em sua atuação no mundo - na realidade da família, da educação, do trabalho, da ciência, da cultura, da política, dos compromissos sociais e civis - para testemunhar o Evangelho e transformar a sociedade.

ESPIRITUALIDADE DO CRISTÃO

176. A espiritualidade de leigos e leigas é, antes de tudo, o caminhar nas estradas da vida, com Cristo, no vigor do Espírito Santo, ao encontro do Pai, construindo seu Reino. Os discípulos e discípulas de Jesus hoje são como os discípulos de Emaús: pessoas a caminho, desalentadas, mas que encontraram um desconhecido que as acompanha e faz arder-lhes o coração, enquanto lhes fala das Escrituras. Quando solicitam que permaneça com eles, finalmente o reconhecem no gesto de partir o pão. Depois deste reconhecimento, voltam para anunciar aos outros: "Aquele que morreu está vivo!".

177. Hoje, como naquele tempo, as pessoas que se sentem chamadas, "vocacionadas" ao seguimento de Jesus, desinstalam-se, entram na caminhada, para fazer a experiência de sua presença e permanecer unidas a Ele, à sua palavra, ao seu amor e, então, partir para anunciá-lo ao mundo. Por isso, a espiritualidade do seguimento é fundamental para a vivência cristã. O Espírito ensina-nos o verdadeiro seguimento de Jesus e suscita hoje uma espiritualidade mais integrada, onde todas as dimensões humanas são contempladas: a corporeidade, a afetividade, a emoção, a racionalidade, a criatividade e a sociabilidade.


178. Os discípulos de Emaús caminharam junto com Jesus, experimentaram sua presença, acolheram o sentido da cruz e regressaram à comunidade, animados e encorajados. Esse encontro com Jesus é experiência do Mistério que nos circunda e envolve, que aquece os corações, que seduz as pessoas, proporcionando um sentido novo às nossas vidas. A paixão por Jesus nos leva a viver a compaixão, a solidariedade e a fazer da partilha fraterna nosso estilo de vida.

179. A espiritualidade não é "uma parte da vida, mas a vida inteira guiada pelo Espírito" de Jesus. "Entre os elementos de espiritualidade que todo cristão deve assumir como próprios, destaca-se a oração. A oração o levará, aos poucos, a ver a realidade com um olhar contemplativo, que lhe permitirá reconhecer a Deus em cada instante e em todas as coisas; de contemplá-lo em cada pessoa; de procurar cumprir sua vontade nos acontecimentos".

180. A espiritualidade não afasta da vida cotidiana. Especialmente leigos e leigas devem buscar a santidade dentro de suas próprias condições de vida. É o que ensina o Concílio Vaticano II. Após ter afirmado com vigor a vocação de todos os fiéis à santidade, a Constituição Lumen Gentium propõe alguns itinerários espirituais não apenas a ministros e consagrados, mas também aos esposos e pais, aos trabalhadores, aos pobres, aos sofredores, aos perseguidos pela justiça, concluindo: "Todos os fiéis santificar-se-ão dia-a-dia, sempre mais, nas diversas condições da sua vida, nas suas ocupações e circunstâncias, e precisamente através de todas essas coisas, desde que as recebam com fé das mãos do Pai celeste, e cooperem com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo".

181. A convivência cotidiana em família é o espaço primeiro para viver esta espiritualidade, procurando confrontar a própria vida com a vida e as opções de Jesus de Nazaré, que "passou fazendo o bem", numa atitude de total abertura ao Pai e aos irmãos. Certamente, a experiência da família embebida desta espiritualidade será diferente. A vivência de relações igualitárias, promotoras de respeito à dignidade e às diferenças, possibilitará um real diálogo e participação de todos os membros, criando desta forma possibilidades para uma inserção criativa e crítica na sociedade.


182. O Papa Paulo VI denuncia a gravidade da ruptura entre fé e vida, entre evangelho e cultura. João Paulo II convida os leigos e leigas a estabelecerem a unidade de vida sustentada pela espiritualidade. "Não pode haver na sua existência duas vidas paralelas: por um lado, a vida chamada ‘espiritual’, com seus valores e exigências; e, por outro, a chamada vida ‘secular’, ou seja, a vida da família, do trabalho, das relações sociais, do empenho político e da cultura. [...] Toda atividade, toda situação, todo compromisso - como, por exemplo, a competência e a solidariedade no trabalho, o amor e a dedicação na família e na educação dos filhos, o serviço social e político, a proposta da verdade na esfera da cultura - são ocasiões providenciais de um contínuo exercício da fé, da esperança e da caridade". Leigos e leigas fazem do fogão, do torno, da cátedra, da enxada, do bisturi... verdadeiro altar. Imersos no mundo do trabalho, encontram inspiração no testemunho de Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro e em Maria servindo a prima Isabel.


183. Maria, "a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor", a primeira discípula de Jesus, nos orienta no seguimento de seu Filho, integrando a docilidade ao Espírito e o serviço generoso às irmãs e irmãos. Os acontecimentos eram, por ela, considerados à luz da própria experiência, da Palavra de Deus, da atenção à vida e à história. Exemplo disso é o Magnificat onde louva e bendiz a Deus pelas maravilhas que Ele realizou na sua vida, na vida do seu Filho e na vida do seu povo. Discípulos e discípulas hoje reconhecerão que Maria é modelo de reflexão sobre a vida à luz da fé. Mulher corajosa, que disse sim a Deus e não às injustiças, ao proclamar que Deus é vingador dos humildes e dos oprimidos e derruba do trono os poderosos. Mulher forte, "que conheceu de perto a pobreza, o sofrimento, a fuga e o exílio - situações estas, que não podem escapar à atenção de quem quiser secundar, com espírito evangélico, as energias libertadoras do homem e da sociedade".


184. A espiritualidade do seguimento de Jesus, vivida por suas testemunhas – mártires, místicos e simples fiéis - impressiona e inspira a vida e a prática de muitos cristãos e cristãs, que buscam ser presença solidária com a dor dos mais sofridos e procuram estar atentos aos sinais dos tempos, que desafiam a uma presença qualitativamente distinta na sociedade.

185. Nessa perspectiva, valorizem-se as experiências já adquiridas, promova-se o intercâmbio entre pessoas e grupos que estão em busca de uma nova espiritualidade, facilite-se o acesso às fontes da grande tradição espiritual cristã, criem-se ou reorganizem-se centros de estudo e de vivência espiritual."

(grifos nossos)

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